segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Morte



morte
(latim mors, mortis)

s. f.
1..Ato de morrer.
2. O fim da vida.
3. Cessação da vida (animal ou vegetal).
4. Destruição.
5. Causa de ruína.
6. Termo, fim.
7. Homicídio, assassínio.
8. Pena capital.
9. Esqueleto nu ou envolto em mortalha, armado de foice, que simboliza a Morte.

 Esteve sempre presente ao longo dos últimos anos, em particular na última fase, a da espera. Poderia considerar duas fases. Até ao internamento, para aguardar transplante, essa relação foi pontual, e sempre foi a imagem da morte que veio ter comigo e não o contrário. Estou-me a referir aos diversos episódios, de arritmias ventriculares, paragens cardíacas entretanto verificadas. Não pensava na morte, nessa altura, apesar da grave insuficiência cardíaca. A morte sim, parece que pensava em mim. Vários episódios deste tipo ocorreram, não em casa, nem no hospital, mas em plena via pública, onde a taxa de sobrecivência é muito baixa ( salvam-se 15% das pessoas e as restantes 85% morrem). De todos os episódios só dois ocorreram antes de me aplicarem o CDI, esses seriam os mais graves, pois em todos os restantes, e muitos foram, o CDI sempre actuou devidamente, gorando os planos que a morte teria para mim.
O primeiro episódio ocorreu no Hospital de Beja, paragem cardíaca revertida pelo enfermeiro Armando, numa fase muito inicial, com intervenção dos cuidados intensivos, o que conduziu à minha primeira cirurgia. Após isso, e durante três anos tive vários episódios desse tipo, mas apenas o primeiro após alta da cirurgia, me encontrou ainda desprotegido, mas com sorte a morte não aproveitou a oportunidade. Foi nessa altura que se decidiu fazer a implantação do CDI, e a partiu daí todos os restantes episódios, mais de uma dezena e meia, ocorreram comigo defendido, e a morte não conseguiu vencer a batalha apesar de tantas oportunidades.

Após muitos episódios desse tipo, e devido ao agravamento muito rápido da insuficiência cardíaca criaram-se as condições para o transplante. Em determinado momento, já não havia garantias que, apesar da actuação do CDI o coração, devido à sua enorme debilidade, tivesse ele mesmo condições de reagir ao estímulo eléctrico do CDI, e repôr as condições "normais".

A partir daqui a imagem da morte passou a conviver comigo. Mais do que uma possibilidade passou a ser um probabilidade real e elevada. Enquanto aguardava por orgão compatível, sabia bem que a morte seria uma visita muito próxima e possível, indesejável, mas possível.Isto colocava na minha cabeça perguntas que noutro contexto seriam absurdas. Cremado ou entregue à terra ? Escrevi cartas à MA, às filhas, à C, dando algumas indicações. Onde ficar ? Como decorreria o funeral e aonde ? Que música tocar ??? O que iria ser de mim do meu corpo, para onde iria ? O que diriam de mim, que imagem deixaria nas pessoas ? O que "queria" para o "eterno repouso" ? Tudo me passava pela cabeça. Lembro-me que optei por ser cremado (é a moda ...) Via a pequena urna num local bem definido.

A noite acentuava a presença da morte, pois no sossego quase ouvia o coração a bater desordenado, alguns batimentos a falhar, como um motor engasgado. Medo não tinha, sabia bem que a morte faz parte da vida, e a morte por colapso é rápida e indolor, tinha-a sentido aquando das paragens cardíacas, não dava por nada, apagava como uma luz que se extingue. A morte acabava por ser o prolongamento normal da própria vida e está tão perto de nós como a vida. É apenas uma mudança de estado.

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