terça-feira, 3 de abril de 2012

Ignorar


ignorar v.tr.
1. Não saber; não ter conhecimento de.
2. [Popular]  Estranhar; reparar em.


Bem tentou a MA à chegada a casa, nesse dia 16 de setembro de 2006, levar-me ao Centro de Saúde, para verificar aquilo que se teria passado durante aquele passeio de bicicleta. Nada. A má disposição mantinha-se, e as forças não recuperaram tão facilmente como poderia pensar. Tinha-mos pensado ir nessa tarde para o Algarve e assim foi. Ao chegar, deitei.me para cima da cama e assim fiquei o resto da tarde, até ao jantar. Numa grande prostração fui mantendo o ânimo e pensando que tudo se resolveria por si mesmo. Todos os sintomas foram ignorados.
Na segunda -feira reiniciava o trabalho. Tinha agendado uma ida a Bragança, várias sessões de formação em Leiria, uma ida à Disneyland em Paris, no aniversário da neta Joana, tudo isso se teria de fazer e  foi efectivamente feito. Na ida a Bragança, ao regressar, de novo uma grande má disposição, enquanto vinha na boleia para o avião. Durante o voo para Lisboa, esses sintomas, prontamente atribuidos a uma refeição mais pesada, foram passando. Entretanto as pernas começaram a pesar e a falta de forças era constante, sobretudo na subida de escadas.
A visita à Disneyland também decorreu, embora sem problemas, com alguma penosidade. Lembro-me ir a pé entre o parque principal e a zona onde dormía-mos, empurrando o carrinho com a Carolina, na altura muito pequenina, não me sentindo a cem por cento. Talvez digestões mal feitas, cansaço físico, esgotamento, tudo me parecia plausível, apenas a palavra "enfarte" não entrava no meu dicionário, nem me foi sugerida, talvez por o seus sintomas mais comuns, não terem sido invocados nem detectados.
Chegou o Outono e finalmente o Inverno. Recomecei a bicicleta, sem grande dificuldade, mantive o ginásio. Fazia formação e andava nuito de carro, de um lado para o outro, país acima e abaixo. Tudo fazia com algum sacrifício mas sem grandes limitações.
Entretanto, horas a fio a falar nas sessões de formação, frio, chuva e outras coisas tipicas de Inverno, começam a dar-me uma sensação permanente de constipação. Mas não era gripe, pois não havia febre. Esta constipação parecia de facto muito estranha e prolongava-se por meses.
Começou com muita tosse, ataques de tosse muito prolongados, sobretudo quando falava nas sessões de formação. Muita falta de ar. As noites tornaram-se irrespiráveis. A cabeça não podia estar na almofada, pois parecia que a respiração não se fazia como um acto reflexo, mas obrigava a uma decisão. Cada inpiração uma decisão., um esforço, que não se produzisse parava os meus pulmões. Comecei a levantar-me de noite da cama, vinha para a sala, e no sofá lia, e aí, nessa posição abrandava a falta de ar e a respiração fazia-se de uma forma mais fácil. Ocupado que estava não tinha tempo para pensar em mim nem nos sintomas cada vez mais complicados. Os meses iam passando, a tosse não, a falta de ar também. Nada me fazia tocar as  campaínhas, de que deveria parar e olhar para mim.
Até que, já no inicio de janeiro, passados 4 ou 5 mese sobre os primeiros sintomas, marquei consulta para a Drª AM, a minha médica de família, que na altura, me receitou um anti-estamínico, talvez por parecer uma alergia repiratória. Pediu também um Raio X ao torax. Ia também tomando uns xaropes "naturais" que pareciam abrandar os sintomas, mas logo depois voltavam. Feito o RX, em Castro Verde, o resultado demorou, pois era preciso fazer o relatório. Só lá para o meio de Fevereiro este veio e acabei por voltar à médica de família para o mostrar,.
Nesse dia caí de espanto. A médica dizia-me que o mais importante era que o meu coração se encontrava muito dilatado, podia ser grave, e o melhor seria ir para as urgências do Hospital de Beja, para que o problema fosse melhor visto. Assim fiz, e após muitas horas de espera, um médico espanhol viu-me, mandou fazer novo RX, que confirmou tal dilatação, mas, segundo ele, só um ecocardiograma, não disponível na altura, poderia esclarecer melhor o que se teria passado, aprofundando o diagnóstico.
Receitou-me um diurético, era sexta feira, regressava a casa já depois da meia noite, com a indicação de fazer a eco o mais rápido possível. Consegui a requisição junto da médica de família, e na segunda feira seguinte de manhã, estava de novo em Beja para realizar os exames pedidos.
Até aí tudo tinha ignorado, para tudo tinha arranjado uma explicação, jamais o bom senso me tinha aconselhado a parar para pensar.

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