quarta-feira, 18 de abril de 2012

Internamento



   internamento s.m.
.Ato ou efeito de internar.

internar - Conjugar 
   v. tr.

1. Meter ou mandar para o interior.
2. Pôr como interno (em colégio, hospital, etc.).
v. pron.

3. Meter-se pelo interior dentro.
4. Engolfar-se, entranhar-se


O telefonema veio, eram 10h da manhã duma quinta feira, estava no café a tomar o pequeno almoço com a MA. Teria de estar em Beja depois do almoço.
Nunca tinha estado internado. A vida num hospital era para mim algo que não conseguia sequer imaginar. Partilhar o quarto com estranhos, como seria a noite, a comida, o banho, como passar o tempo, como ocupar a cabeça.
No final da manhã estava em Beja no hospital a fazer o "check in" ... Mandaram-me almoçar fora, e assim se fez. Depois do almoço lá estava de novo.
No quarto destinado havia três camas. Fiquei junto à janela. Já estavam duas pessoas instaladas. Eu era o terceiro e o quarto ficava cheio. Vesti o pijama, e fui para a cama. Desde logo e como aperitivo, um cateter na mão. Não gostava nada de análises, agulhas, detestava ver sangue. Logo no meu primeiro contacto tudo isto esteve presente. O inevitável cateter cujo aplicação doeu forte. O meu primeiro de muitos outros que se seguiram. Mais análises para recolher sangue. Aguentei como pude. Mal sonhava que estes gestos se tornaram nos anos seguintes o meu dia a dia, noutros internamentos.
A MA manteve-se até cerca das 7h da tarde. E lá fiquei. Veio o jantar e a primeira noite no hospital. A comida era fraca, insípida e feitas para doentes, como seria normal. Esse era agora o meu novo "estatuto". A noite correu bem. Os meus companheiros eram um jovem com uma infecção viral na pleura, mas sairia no dia seguinte. Trabalhava com porcos. O outro tinha feito um cateterismo e estava imobilizado na cama por este se ter complicado, e era operário da construção civil. De facto a doença é democrática e aqui todos somos apenas doentes, ou utentes. Este último ainda ficou depois de eu sair para S.Marta. haveria de o reencontrar por  lá.
A Drª MJ aparecia todos os dias pela manhã. Era simpática. O pessoal de enfermagem realizava a sua função sem grande rasgo, mas de forma eficaz. O pessoal auxiliar, mais barulhento, mais impreparado, sem grande educação, mas seria talvez um primeiro choque, eu também estava impreparado para estar no hospital, e tudo me incomodava.
Durante o tempo que durou este internamento, afinal o primeiro de muitos, e que durou pouco mais de duas semanas, fizeram-se vários exames. Desde longo um cateterismo, que me obrigou a viajar a S. Marta de ambulância. Estava receoso quando saí de Beja, cedo, acompanhado com uma velha cigana, que vinha ao mesmo. Fiz este exame para verifcar até que ponto as coronárias estavam obstruidas e poderia ou não com uma angioplastia, feita no próprio exame, desobstruir, e no caso tudo ficaria por ali. Na realidade estavam obstruidas, daí o enfarte, mas não foi possível desobstruir. Assim regresei a Beja. A cigana ficou por S. Marta pois teve mais sorte que eu.
Na manhã seguinte ao cateterismo, a Drª MJ veio então dar-me a notícia mais importante deste internamento; havia obstrução em três vias, teria de fazer uma operação, conhecida por "by-pass" no caso triplo por envolver três veias, e iria fazê-lo a S.Marta. Iria primeiro fazer uma "sintigrafia" visando saber qual a profundidade doa obstrução, o que implicou nova ida a Lisboa. Nesse dia a MA surpreendeu aparecendo no decurso do exame.  Aguardaria ali, no Hospital de Beja, até ser chamado para a operação. Esta iria ser feita pelo Prof F teria algum risco mas tinha de ser feita. Estaria eu de acordo ? Tinha de ser feito e não havia escolha, mas foi simpático perguntar...
Regularmente ia tendo visitas da MA, vinha quase todos os dias. Era a única visita regular, para além de alguns telefonemas da família. Não tinha televisão, o meu enteado comprou uma para que pudesse estar mais ligado ao mundo. As coisas estavam a compor-se e era suportável a estadia.
O internamento seria interrompido de forma abrupta. Interrompido, não propriamente, mas transferido para outro local por razões imprevistas. Lá iremos.

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