sábado, 28 de abril de 2012

Coração doente


coração
(latim vulgar *coratio, -onis, do latim cor, cordis)
s. m.
1. [Anatomia]  Órgão musculoso, centro do sistema de circulação do sangue.
2. Parte exterior do corpo correspondente à zona do coração. = PEITO
3. [Figurado] Conjunto de sentimentos.
4. Centro da sensibilidade, da afeição, do amor.
5. Objeto do afeto de alguém.
6. Consciência ou memória.
7. Conjunto de características morais ou psicológicas. . = CARÁTER = , ÍNDOLE
8. Coragem, valor.
9. Voz secreta.
10. Parte mais interior de algo (ex.: coração da alcachofra).
11. Parte mais central ou mais importante de algo (ex.: coração da cidade).
12. Cerne da árvore.
13. [Técnica]  Peça angular numa intersecção.interseção.interseção de via-férrea.
14. [Brasil]   Varanda ou sala de uma casa.
abrir o coraçãodesabafar.
como o coração nas mãoscom grande sinceridade ou franqueza.
com inquietação ou preocupação.
cortar o coraçãocausar emoções relacionadas com a tristeza ou a compaixão.
falar ao coraçãotentar sensibilizar alguém.
ter o coração ao pé da bocaafligir-se facilmente.
ter o coração ao pé da goelao mesmo que ter o coração ao pé da boca.
 


Tinha sido um primeiro embate com o meu coração. Eu ter-me-ía portado mal e arrastado o coração nesse comportamento ? Seria? A realidade é que agora ali estava, num pós operatório complicado, o peito aberto, as dores e a secura. As três veias (ou pedaços delas) retiradas da perna, estavam agpra a assegurar a irrigação cardíaca. O balão intra aórtico, colocado através da região fémural, ajudava a circulação compensando a falta de débito que a insuficiência cardíaca provocava. Era uma solução provisória e muito em breve teria de ser retirado, risco suplementar. Havia esperança de que esta  operação, visando melhorar a irrigação, melhorasse o desempenho do músculo cardíaco, e tivesse um impacto positivo na insuficiência cardíaca. Como condição estava o facto de a zona "morta" pudesse reagir bem a uma revascularização, e assim ser "resssuscitada", recuperando das lesões e pondo o músculo de novo a funcionar. Não acredito que os médicos acreditassem muito nisso, mas enfim "foi uma boa tentativa" diriam no final...

Poucas horas depois de acordar foi-me retirada a ventilação  artificial, o que muito aliviou, e deixou livre para beber água, pois a sede era intensa, e até para comer algo.

Dois ou três dias foram passados nos cuidados intensivos cardiotoráxicos, uma unidade muito bem apetrechada, e aonde todos estavam em pós operatórios. Uns gemiam de vez em quando, outros chamavam, e havia mesmo um homem de côr, um negro, que se especializou em retirar os cateteres, agulhas e soros, espernear e virar-se na cama, criando uma confusão dos diabos à sua volta. Que paciência tinham com ele, pois de cada vez tinham de recolocar tudo de novo, e para ele havia risco de se ferir.
Dali fui transferido para os cuidados intermédios, já com menos agrafos, e para um local mais calmo, onde a monitorização era mais ligeira. Continuava a haver restrições de visitas, mas era claro que esta mudança significava que o risco se reduzira.

Durante uma das visitas dos médicos o Prof F, que me operou, disse uma frase que me ficou registadana memória. À pergunta se a operação poderia reduzir a insuficiência cardíaca respondeu, que sim, que pensava que haveria alguma influência positiva, mas que caso contrário, não ficaríanos por ali, e no limite "até se pode fazer um transplante". Fiquei com estas palavras premonitórias na minha cabeça, mas naquela altura o que mais me preocuava era mesmo sair dali, retomar a vida lá fora, como pudesse e esquecer o "coração doente".

Nos cuidados intermédios vi de tudo. Desde um senhor que quase não respirava, e estava o tempo todo prostrado, a um idoso que estava sempre a repetir que a mulher estava em casa à espera para jantar, e tinha de sair já para ir ter com ela. Penso que faleceu ali, comigo ainda lá. Os mais teimosos, os mais resignados, tudo por ali passava, tendo em comum o coração doente, uns com mais soluções do que outros. Mais uma semana se passara, a dores abrandaram, dores provocadas pelo impactoe da operação, e ainda o resto do célebre mrro no peito, que recebi em Beja, e afinal, me tinha salvo a vida. Dormia de costas na cama pois não me podia voltar para não pressionar as soturas feitas, e porque me doía.

No final de uma semana estava a abandonar os cuidados intermédios, e estava numa enfermaria normal, com várias camas, sem monitorização e já a caminho de casa. Acabei por ter alta dali no dia 6 de Abril de 2007, tinha passado cerca de um mês sobre o primeiro internamento. As expectativas agora eram grandes, no entanto, antes de sair fiz um ecocardiograma que revelava que a evolução da insuficiência cardíaca tinha sido alguma, mas pouca,. A função cardíaca, medida pela "fração de ejeção", que era cerca de 24% antes da operação, passara a 29% agora, quando o valor normal de um adulto é de cerca de 70%  (isto é, quando o ventriculo comprime, 70% do sangue passa para o aurículo e à circulação, e 30% permanece retido).  Ora no meu caso era exactamento o contrário, o que dá uma ideia muito clara do desempenho do orgão vital, e da pouca evolução que, sob esse ponto de vista a operação introduziu.
Foi assim que regressei a casa, com esperança, mas ainda com muitos receios.

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