sexta-feira, 27 de abril de 2012

Intensivo

intensivo
(intenso + -ivo)
adj.


1. Que dá mais força.
2. Que torna intenso.
3. Em que se acumulam esforços ou meios (ex.: curso intensivo).
4. Que visa a máxima produção por unidade de superfície e uma rápida rentabilização do investimento (ex.: agricultura intensiva).


Agora estava num internamento de outro tipo. Monitorizado, com soro, ligado a uma máquina que fazia perfusão de um medicamento, cateterizado, algaliado, enfim uma boa dezena de fios e tubos saíam do meu corpo, manietavam-me e dificultavam os movimentos. Estava preso a uma "parede" como um condenado. Aprendi o que era tomar banho numa cama, o que era o urinol, a arrastadeira, o que era comer na cama sem me levantar. No futuro esta aprendizagem seria-me útil...

A dependência era total, apesar do pessoal da unidade ser simpático, e jamais fazer má cara a qualquer pedido. Por vezes era eu que me limitava a chamar ou a pedir. Agora sim, sentia toda a fragilidade da doença cardíaca. Recordava-me agora daquele passeio de bicicleta e a minha total falta de sentido de precaução.

Estava agora à espera da marcação da operação, passado o incidente da paragem cardíaca. Os dias iam passando e ainda não se tinha esclarecido claramente se a operação seria mesmo aquela de que se tinha falado em Beja, o triplo by-pass, ou outra.

Nos cuidados intensivos passava os dias deitado, ouvia-se  música de fundo e podia ler revistas ou livros. Li Alexandre O'Neil, uma biografia, e depois a sua poesia. Os dias custavam muito a passar. Tinha agora, para além da MA, as visitas das minhas filhas. O Zé e a Teresa também me visitaram. Enfim, a comida era dificil de tragar, e tudo corria muito lentamente.
Estive ali cerca de duas semanas, até que decidiram pôr-me nos cuidados intermédios, mesmo ali ao lado. Um regime de controlo menos apertado. Entretanto os meus braços íam ficando negros, com inflamações, devido ao medicamento que estava a ser injectado, o que obrigava a mudar os cateteres ao fim de dois ou três dias; até que me foi comunicado que a operação estava marcada. Sexta feira próxima, 31 de Março de 2007, 8 horas. Estava internado desde o dia 8 de Março e já tinha passado quase um mês.
Na véspera da operação era preciso assinar várias autorizações e á noitinha fui todo "rapado" para que os pêlos não interferissem com a operação. Esta consistia em retirar uma veia da perna (a veia safena) e uma no peito ( mamária) e substituir funcionalmente as veias entupidas no coração. No caso três veias.
Na manhã de sexta-feira aprazada fui levado para o bloco operatório.
Dois dedos de conversa, uma anestesia e perdi a consciência. De nada mais me lembro do que o acordar lá para a tarde, não sei precisar, nos cuidados intensivos cardiotoráxicos, num outro andar de S.Marta, todo entubado, ventilado, com a boca ressequida, o peito apertado por agrafos, tinha sido aberto e fechado de seguida, a perna com agrafos, dores, sede, muita sede, na virilha um balão intra aórtico. Estava um caco !

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