quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Medicamento


medicamento
s. m.
1. Substância que, devidamente manipulada, se aplica ao organismo doente com o fim de o curar.
2. Remédio.

Durante muitos anos até surgirem os primeiros sinais de doença cardíaca, da "cardiomiopatia ventricular diltada", com "insuficiência cardíaca grave", não tinha qualquer contacto com medicamentos. Era uma pessoa saudável, alguns pontos fracos, mas poucos, não carecendo de mais do que uns vulgares anti-inflamatórios, ou cêgripes, e pouco mais. Foi a doença cardíaca que modificou a minha relação com os medicamentos e com isso tudo se alterou na minha vida. Não estava preparado para esta dependência, mas posso assegurar que depressa nos habituamos, e diria que hoje até constitui uma "ocupação". A relação com eles é agora despreocupada e sem "dramas", garantindo as tomas nas doses adequadas, e nas horas certas. Penso que quanto maior a resistência aos medicamentos, mais dificil é conviver com eles e cumprir aquilo que pedem os médicos.

Fazer coincidir com momentos do dia como as refeições, ou o levantar ou o deitar facilita-nos a vida e evita esquecimentos, possuir uma folha terapêutica diária, como aquela que o Dr RS nos entrega nas consultas de rotina, também ajuda, qual lista de supermercado, a respeitar as horas, evita esquecimentos, mas no final acaba por ser memorizada. Também ajuda ter uma caixa doseadora que todos os dias, antes do jantar, preparo para o dia seguinte. Essa caixa tem compartimentos com a indicação do momento da toma e basta lá colocar os comprimidos, cápsulas e pastilhas para aquele momento. Assim gerir a medicação é mais fácil, sobretudo para quem, como eu faz 24 tomas diárias.

Existem medicamentos que não cabem nas caixas, ou apenas devem ser retirados das embalagens no momentos da toma, esses recorto-os e coloco junto da dita caixa para que não esqueça. Depois ainda há as saquetas, pipetas e outras "tretas", que registadas na folha terapeutica facilitam a aquisição do hábito.
De que estou a falar quando falo de medicação?
Bem, no total de um conjunto de medicamentos sob diversas formas, comprimidos, pílulas, cápsulas, saquetas, pingos, que no meu caso chegam a mais de duas dezenas de tomas diárias. A medicação anterior e posterior ao transplante é muito diferente, pelo que após o transplante, os hábitos mudaram, quer por ter-mos novos medicamentos quer por serem em maior quantidade e de maior responsabilidade. no que toca ao rigor das tomas e ao respeito dos horários.

Assim, mal mal me foram detectados os primeiros sinais da doença cardíaca grave, e ainda antes da primeira cirurgia, comecei de imediato a tomar diuréticos, medicamentos para controlar a tensão e o ritmo cardíaco, vaso dilatadores, e uma rastatina para controlar o colesterol; posteriormente aquando das crises de taquicárdia, comecei a tomar a amiodarona. A esta medicação junta-se a da HBP. Tudo isto eu tomava junto com as refeições ou não, em doses variáveis, geridas pela cardiologista, uma medicação que tomei durante cerca de quatro anos, desde os primeiros sintomas até ao transplante, que me manteve estabilizado, controlado e sobretudo vivo...No inicio estranhei. Assim como se fosse um idoso, sentar-me à mesa para uma refeição e alinhar em cima da toalha uma fila de comprimidos, inteiros ou em metades ou quartos, é algo "deprimente", sobretudo quando ainda nem se tem sessenta anos, sempre tive a ideia de que estaria incólume a este tipo de patologias mais graves, que aliás nunca se tinham manifestado. Depois habituei-me. Afinal não podia viver sem eles. A medicação foi.se mantendo de consulta para consulta, e apenas as doses eram alteradas, pontualmente, em função dos sintomas relatados ou das situações concretas que se íam passando. Mais tarde comecei também a tomar medicação para proteger o estômago da toma de determinados medicamentos. tudo medicamentos muito vulgares, a maioria no "top ten" dos mais consumidos no país. Pois, nada de muito original, ou as doenças cardio vasculares não fossem das mais vulgares e que têm associada uma das maiores taxas de mortalidade.

No período de espera por um dador, enquanto estive internado na UCI, para lá do já referido, juntaram-se antibióticos, nos momentos, e foram vários, em que algumas infeções me atacaram, medicamentos para a diabetes, que entretanto aproveitou a brecha, a debutamina 210, doseada através de um cateter, mantinha o estímulo que me permitia ter alguma "chama", mantendo o meu velho coração com um nível de funcionamente adequado, embora artificialmente, nível compatível com "serviços mínimos".

Após o transplante tudo se modificou. Deixei de ser um "doente cardíaco" e passei para outra categoria, um transplantado com as intercorrências e riscos associadados. O principal era o risco do sistema imunitário atacar o orgão, elemento estranho, invasor, que não pertence ao corpo original criado por Deus. Para isso se tomavam agora imunosupressores. Vitais para evitar a rejeição, a falha na sua toma poderia ter um desfecho fatal pelo que o rigor na toma é muito importante.

Também os corticóides marcaram presença, para prevenir infecções, e também pelo seu efeito imunosupressor. Outros antifungicos, antivirais, diuréticos, controlo de colestrol, etc.
Estado geral, em risco permanente, pode conduzir a outras patologias que carecem de terapia adequada. A diabetes, que implica a toma de insulina,  a tomboflebite, que recomenda anti coagulantes, os problemas da coluna, a osteoporose, enfim uma longa lista de situações potenciadas pela patologia ou pela própria medicação.
Pouco a pouco, à medida que a situação foi evoluindo favorávelmente, medicamentos houve que foram sendo retirados, ou cujas doses foram muto reduzidas. Para que tudo isto funcione é preciso rigor e organização, estruturar bem para que todas estas tomas não se tornem numa penalização insuportável.que tomam conta da nossa vida. Afinal tem de ser possível relativizar tudo isto, sabendo que a nossa qualidade de vida depende muito da toma correcta da medicação. E se é sacrifício pensemos nos outros casos, situações de pessoas sem solução, ou submetidas a muito maiores privações. Afinal a medicação não é o problema mas sim parte da solução.

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