sábado, 27 de outubro de 2012

Luz


luz
(latim lux, lucis)
s. f.
1. O que, iluminando os .objetos os torna visíveis.
2. Candeeiro, lâmpada, vela ou outra coisa acesa.
3. Efeitos de luz em quadro, fotografia ou outra representação.
4. O que ilumina o espírito. = CLARIDADE
5. Claridade de um astro. = DIA
6. Brilho, fulgor.
7. Critério.
8. Evidência.
9. Ilustração.
10. Publicidade.

Uma das coisas que mais me incomodava durante os diversos internamentos é a luz. Habituado a ambientes mais sombrios e à escuridão durante a noite a luz incomoda-me e impede o descanso. Ali havia sempre pretexto para manter a luz acesa. Ou por necessidade, descuido ou esquecimento. As luzes no tecto, em cima dos olhos, quando deitado, ou a luz no corredor que não podia ser desligada durante a noite. A luz individual, por cima da cabeceira da cama, ainda a que menos incomodava.

Havia sempre pretexto para manter a luz acesa, ou porque um doente ía ser transferido, ou porque se aguardava um doente que ía chegar, ou porque "não se vê nada", ou porque as luzes "se estão lá é porque são precisas".

Durante a noite a claridade na UCI era total e só conseguia dormir com umas vendas nos olhos o que ajuda muito as pessoas que têm grande sensibilidade à luz, ou têm dificuldade em dormir com luz, é o meu caso. Nas enfermarias era um pouco diferente, as luzes eram apagadas por volta das 23 horas e, a partir daí, o sono podia tomar conta de mim em geral "ajudado" por um comprimido para dormir.

Mesmo durante o dia é hábito manter difusores com quatro tubos fluorescentes acesos, e durante algum tempo tive de suportar nos olhos essa catadupa de luz, pois não era capaz de me levantar para as apagar.
A pouco e pouco, com a minha insistência, com os meus pedidos, todos foram percebendo o quanto me incomodavam as luzes acesas, e como ser um pouco mais exigente nesse aspecto tornava a minha "estadia" um pouco mais confortável. e, uma vez explicado, com insistência mas com educação e simpatia, acabamos por conseguir o que queremos, quando os pedidos têm bom senso e são de facto razoáveis.

A minha "guerra" com a luz acabou por ser ganha. Mas tive de fazer muitas adaptações, pois havia coisas impossíveis de fazer. Por exemplo, o corredor da UCIC ficava com as luzes acesas toda a noite, porque sendo apenas um único circuito, ou se mantinham as luzes todas acesas, ou pelo contrário teriam de apagar tudo, coisa não aceitável numa unidade como aquela. Assim a claridade só podia ser diminuida com as minhas vendas nos olhos.

É a luz que nos impede de ver, impede de dormir, a luz que não nos deixa observar "por dentro", que nos deixa despertos, pensamentos em estado de alerta, quando o que pretendia era exactamente o contrário disso, o descanso, o esquecimento de mim, esperar sem "medir" o tempo que passa.
Foi assim uma batalha contra a luz, uma batalha pelo lusco-fusco, que não pela escuridão. Tudo acabei por aceitar como me foi apresentado, mas procurando, com todo o cuidado, o melhor e maior conforto, pois sabia que ía por ali passar bastante tempo, um tempo que eu não saberia estimar.

Hoje, que se fala tanto em redução de custos, em poupar, veja este problema com outros olhos. Na realidade muito se poderia poupar com um pouco mais de atenção às luzes acesas totalmente inúteis. Mais poupança e mais conforto, pois muitos doentes queixavam-se do mesmo que eu, e referiam a incomodidade nos olhos causado pelo excesso de luz, e quanto interferia com a vista, pois estavam como eu próprio, muitas horas na cama, de costas, com os olhos pregados no tecto.

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