sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Visita


visita
s. f.

1. Ato ou efeito de visitar.
2. Pessoa que faz uma visita.
3. Inspeção; vistoria.

visitas
s. f. pl.
4. Cumprimentos; lembranças; saudades.
visita de médicoa que é de curta duração.

visitar - Conjugar
v. tr.
1. Ir ver por cortesia, dever, curiosidade, caridade, etc.
2. Inspecionar, passar revista a.
3. Viajar por, percorrer.
4. Aparecer; mostrar-se; declarar-se.
5. Dar busca a.

Ao longo do internamento a minha relação com as visitas foi estranha e evoluiu com o evoluir da situação. Muitas vezes era agradável receber pessoas, outras não. Algumas teria preferido a solidão, outras, muita gente a meu lado. Não houve nunca um batalhão de gente comigo, sendo mais certo ter a MA, as filhas e pouco mais. Pontualmente o LM (visita que muito me espantou pelo interesse com que seguiu o problema), a C, o RM, a CA,  o AS, o Z e a T. A partir de determinado momento, a minha fragilidade era tal que já não era capaz de estar com as visitas, sobretudo com novas visitas, ansiosas de falar, de saber e trazer novidades, conhecer a "história", coisa que eu já tinha dificuldade em acompanhar mentalmente.

Perante isto, acabei por ser apenas acompanhado pela MA, as filhas, que naturalmente exigiam menos esforço da minha parte, e me traziam apoio psiquico e alimentar, e uma palavra amiga, numa fase em que praticamente nada comia, e o que me traziam do exterior era a única coisa que me agradava.

Foi dificil limitar, e algumas pessoas terão talvez levado a mal, terem sido "travadas". A minha energia já não era suficiente e tinha de a aproveitar para outras finalidades, sendo que a maior de todas era sobreviver. As visitas dos outros internados algumas vezes incomodavam, se bem que, estando a aguardar o transplante na UCIC, as visitas eram muito limitadas e bem controladas, e em geral, resumidas a apenas uma pessoa por doente e durante um curto período de tempo.

Certo que a intenção de todos era melhorar o "moral" do doente, mas nem sempre o que se fazia para esse fim era dessa forma entendido. Os sentimentos eram contraditórios e por vezes as alegrias das visitas eram compartilhadas e eram transmitidas, outras, pelo contrário, chocavam-me, pelo contraste com a minha situação, gerando mesmo alguma "revolta". Nem sempre o que era feito com uma intenção, era percebido por mim no mesmo sentido. Tudo era filtrado através de um filtro que mudava o seu critério em função da minha cabeça, e da forma como esta se encontrava. Tudo estava bem, mas nem tudo me fazia bem. Por vezes quando a visita saía eu ficava destroçado e revoltado.

Aos fins de semana, o grande vazio. Uma enorme avalanche de visitas mas para os outros. É no fim de semana que a maioria das pessoas vêm, mas para mim era mais durante a semana. Nunca tive falta de acompanhamento, nem de amizade e apoio. De qualquer forma eu estava sempre "acompanhado" com os meus livros, o computador, o blog, as minhas músicas, os meus cadernitos, tudo aquilo que povoava o meu pequeno mundo e o tornava melhor, mais pleno de coisas boas. Não pensar que é sobretudo dos outros que vem a mensagem de ânimo, mas desenvolver a capacidade de se auto animar.

As visitas nem sempre eram benvindas, reconheço, para quem está tanto tempo à espera, há momentos de fadiga, momentos em que a nossa solidão perante a morte nos ajuda, nos faz pensar, nos acrescenta a vontade de lhe fazer frente, e a presença de visitas, nesses momentos,  é um elemento que perturba essa solidão conveniente. Mas sem as visitas é dificil sobreviver, dificil estimular a esperança, e encher os depósitos com a dose necessária. O ideal é um equilibrio, nem demais nem de menos, e nos momentos certos (o que é dificil de adivinhar...) Entendo que quem tem um ente próxino doente, sofre por ele, sente a sua falta, procura a proximidade porque isso também lhe dá alento, e ajuda a suportar a dôr e a distância.

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