sexta-feira, 4 de maio de 2012

Arritmia

arritmia
(grego arrutmía, -as, falta de ritmo ou de proporção)  s.f.
1. Falta de ritmo.
2. Irregularidade nos batimentos cardíacos ou na pulsação (ex.: arritmia cardíaca).EURITMIA




No regresso a casa tive todo o apoio. Da MA, da Drª AM, do S, enfermeiro do Centro de Saúde. Havia pensos a fazer, pontos para retirar, e as dores no peito limitavam muito os movimentos. Estava bem sentado, mas na cama as coisas não eram fáceis. Uma volta na cama, uma mudança de posição muito dolorosa, e era uma verdadeira aventura. A cicatriz ainda estava fresca, e o externo tinha sido, primeiro fracturado, depois aberto para efeito da operação.

Em Ourique tinha todo o apoio necessário, e sentia que recuperava dos piores momentos. Não podia conduzir, por enquanto, e  os dias da semana passavam devagar. Tudo era lento mas recuperava. Sabia que no dia 14 de Abril, sábado seguinte a MA iria fazer o lançamento de um livro que tinha escrito com a CC, na Editora Piaget, a partir de uma série de trabalhos de alunos.  Isso implicava deslocar-me ao Algarve, pois tal decorreria na Biblioteca de Lagoa.

Tomava a medicação, que incluia medicação para a tensão e para controlar as arritmias. As coisa estava a andar e cada dia melhorava. No dia 13 nascia o João Miguel, e no sábado 14 fomos para o Algarve para a sessão de lançamento que decorria na Biblioteca de Lagoa.. A MA pos-se a preceito, a FL faria a apresentação do livro, e depois seria a sessão de autógrafos. Na sessão estava muita gente. Os alunos, que tinham participado com os seus trabalhos, estavam em grande parte presentes, tendo alguns deles vindo de longe. Também estavam professores de escolas onde os trabalhos tinham decorrido, nomeadamente de Silves, eu próprio lá estava num cantinho, muito fragilizado, mas feliz por estar a aultrapassar esta fase.

Tudo correu muito bem, os discursos, o rever de pessoas que se preocuparam comigo, a MA estava, como seria de prever, a rebentar de vaidade, parecia um dia perfeito. A apresentação havia de ser seguida de um jantar, no restaurante Ciclo, em Lagoa, pois o retaurante habitual dos eventos da Câmara, o Lotus, estva encerrado, por um motivo excecional qualquer.

E assim foi. sentá-mo-nos na mesa, onde para além de mim e a MA, estava a FL, a CA e a CC com o marido.A conversa fluía sem problema, embora eu me sentisse muito frágil e sem grande "força de vontade". A mim coube-me encomendar "chateaubriant", isto é uma posta de carne mal passada e suculenta. Ao começar a comer apenas senti uma tontura, a mesma do dia do "pastel de nata". E o silêncio.

Acordei no chão, "Sr Carlos Sr Carlos..." , muita gente de volta, as mesas do restaurante desarrumadas, e ao que parece, segundo me contaram, uma forte arritmia, seguida de paragem cardio repiratória. Nada mais, nada menos !!! O 112 já lá estava quando acordei. Tinha desmaiado, caído no chão, alguém terá gritado "Hà algum médico na sala !!!" e havia não um, mas três, e uma delas uma  anestesista de S. Marta. Que coincidência. Com a calma de médico fizeram a reanimação, com masagem cardíaca, enquanto o INEM era chamado, tendo chegado dez minutos depois. Nesse momento já estava reanimado, embora desorientado, sem ter o verdadeiro sentido daquilo que se tinha passado. Transferiram-me para o Hospital de Portimão. Tinha sido uma enorme confusão, apenas me lembro da ambulância naquela rua, as luzes intermitentes a piscar, as pessoas a espreitar nas janelas, já era noite, e viam o que se passava.

Dei entrada em Portimão já depois das 8 ou 9 da noite. A urgência estava cheia como um ovo, mas lá me arranjaram um lugar num cantinho mais protegido, pois estava muito debilitado. Cardiologia não existia por ali. Entretanto a MA fazia os contactos habituais, Drª AM, Drª MJ, que recomendaram a transferência para S. Marta. A noite passou-se mal; despiram-me, colocaram-me uma bata, picaram-me com um cateter, tiraram sangue, tive de contar a minha história, com o ânimo  que pude. Mal dormi a noite. Sei que a MA também não. Tudo era complicado, dificil, a história ia-se repetir. Agora que pensava que tudo estava passado, voltava ao ponto zero !

De manhã muito cedo foi-me dito que iria ser transferido para para Lisboa, S. Marta de novo. Assim foi, uma ambulância de Silves levou-me, a MA, lembro-me de a ver à porta do Hospital, depois iria ter comigo, mais tarde. Cheguei a Lisboa por volta do meio dia, entrei nos mesmos cuidados intensivos, de onde tinha saído para a operação, fui posto na mesma cama onde tinha estado cerca de um mês antes. Os mesmos fios, cateteres, tubos, os mesmos enfermeiros, médicos, a mesma música de fundo e os mesmos alarmes. A amiodarona a escorrer para a minha veia, a corroer. Lá estava de novo. Nova odisseia, e uma nova fase. Já tinha sido operado, e tinha tido alta há cerca de uma semana, mas entrava de novo no hospuital. O que fariam desta vez, como alterariam o curso deste destino que parecia querer puxar-me para baixo, cada vez mais para baixo ? O que seria agora de mim ? Haveria mais a fazer que não tivesse sido já feito ? Entretanto era domingo, só no dia seguinte poderia ser visto pelo médico, um especialista em arritmologia. Depois decidiria. Agora só restava esperar e passar o melhor possivel. Ao final da tarde ainda veio a MA. Tinha vindo do Algarve de novo para me acompanhar.

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