sexta-feira, 4 de maio de 2012

Acessório

acessório
(latim tardio *accessorius, -a, -um, do latim accedo, -ere, ir para, aproximar-se, colocar-se ao lado de, aderir)
Confrontar: assessório.
adj.
1. Que se junta ou incorpora por acessão.
2. Que se pode dispensar. = SECUNDÁRIOESSENCIAL, FUNDAMENTAL, INDISPENSÁVEL
3. Que não é muito importante.

4. O que está junto a coisa principal. = COMPLEMENTO
5. Circunstância acidental.
6. Peça que completa ou melhora o funcionamento de algo.
7. Peça ou adorno que se acrescenta ao vestuário.

s. m.




E cá estava de novo, oito dias depois de ter alta, regressava aos mesmos cuidados intensivos, na mesma cama, os mesmos fios, os mesmos alarmes, os mesmos enfermeiros, os mesmos cuidados, os mesmos sonhos, e a mesma música de fundo. Ainda sentia os restos da operação, os seus sintomas e os seus limites.
Agora conhecia novos médicos, os Dr NS e MO, os tais arritmologistas. Consultaram-me logo na segunda feira e colocaram a hipótese de, por razões de segurança de vida, me implantarem um acessório chamado CDI ( cardio disfibrilhador implantável) o qual seria assim um espécie de seguro de vida. Perante uma arritmia com determinadas características, o aparelho disparava um choque eléctrico em corrente contínua de entre 300 a 1000 volts, o que provoca a reanimação, não sem antes tentar reverter a arritmia. Um aparelho "inteligente".

Para fazer o implante seriam necessários mais exames, e entre eles estava o esclarecimento de uma dúvida, se teria acumulado liquido na pleura, coisa que vinha do pós operatório, mas que dividia a opinião de dois os três médicos. Assim fiz uma TAC para esclarecer de uma vez por todas o problema. Sem isso não haveria implante.

A TAC falou como um livro aberto; era mesmo líquido acumulado, e que teria de ser removido para que o implante do CDI se fizesse sem problemas. E asssim se fez. esperei mais alguns dias, até que finalmente se marcou um dia em a remoção seria feita por um cirurgião. No dia aprazado esperei o dia inteiro em jejum, esperando que a intervenção se fizesse. Era ali, nos cuidados intermédios onde agora já estava, que a "coisa" se faria. Simples, segundo o enfermeiro, mas obrigou a um dia inteiro de jejum e uma muito longa espera. A pequena intervenção seria feita pelo cirurgião (o Dr PC), apoiado por um enfermeiro, o M, . Quando lhe pareceu "pôs a mesa", numa das mesas de apoio, com toda a parafrenália necessária. Umas agulhas, tubos, sacos, bisturis, e outras coisas. Os meus nervos estavam em franja, por muito que o enfermeiro me dissesse que não iria doer, para me aclmar. E tantas vezes mo disse que comecei a desconfiar. As horas passavam e só lá pelas 8 da noite o cirurgião apareceu. A minha fome era de lobo, mas queria "despachar-me", ficar livre de mais este impedimento. E assim se fez aquilo que eu chamei " a mais dolorosa pequena intervenção que fiz".

Em palavras simples, primeiro mandou-me sentar numa cadeira "ao contrário" e agarrar-me bem às costas da cadeira. Tirar o casaco de pijama. Senti um frio nas costas, de um desinfectante a passar. "Uma picadela" de uma anestesia anunciada pelo Dr PC. A anestesia era local, muito localizada, para evitar a dor do corte a fazer. Corte feito, punção, e eis que um tubo de plástico começa a ser introduzido pela punção feita. Uma ação altamente invasiva... que percorre o interior do meu corpo, das costas até à zona abdominal. Até aqui tudo bem. Agora era fazer a sucção. Através do tubo ía sendo aspirado o líquido, e cada aspiradela a dor que se sentia era indiscritível. Várias sucções foram feitas, o enfermeiro agarrava-me as mãos com toda a força e dizia "força", "calma", e os meus olhos enchiam-se de lágrimas. No fundo era tudo a sangue frio, e a dor era intensa,  no limite do suportável. E nunca mais acabava, porque o médico aspirava o líquido com muita cautela e muito devagarinho, quanto mais rápido mais dor. Terminou tudo, e eu estava exausto de tanto sofrimento. Jamais tinha sentido algo tão intenso, assim sem anestesia. No final cerca de um litro e meio de líquido retirado. Olhei e não queria acreditar. Concluida esta operação estavam criadas as condições para me fazerem o implante do CDI.

O aparelho era pequeno, assim como uma caixa de comprimidos, redonda, metálica, com alguns fios a sair. Aprazou-se a operação para um final de tarde de uma sexta feira. Haveria que abrir um bolso no peito, e lá colocar o aparelho e ligá-lo a uma sonda no interior do coração que iria detectar a arritmia. A operação foi feita primeiro com anestesia local na região frontal do pescoço. Aberto o "bolso", era colocado o aparelho, e ligados os respectivos fios. Tudo ligado havia que testar o funcionamento do aparelho simulando uma arritmia. Foi-me dada então uma anestesia geral, embora ligeira, para a simulação e eu nem senti o tal "coice de cavalo", como me foi descrito, que corresponde ao choque eléctrico de alta intensidade no peito. Não o senti mas o choque deu-se mesmo, e ao acordar, o Dr MO disse que tudo estava bem e agora havia apenas que recuperar a zona que tinha sido fechada com vários pontos. Para já o braço esquerdo estava imobilizado, não o poderia mexer, e mais tarde levantar, durante uma ou duas semanas. Depois disso tudo bem, só teria de fazer nova intervenção para mudar a pilha do "acessório" que agora tinha. Mas isso poderia demorar seis ou sete anos.

Regressado aos cuidados intermédios no dia seguinte seguiria para a enfermaria de cardiologia e no inicio de Maio estava de novo em casa com o meu novo "acessório". Estava agora preparado para fazer face à arritmia, e dispunha de algo que me podia salvar nas situações mais criticas, como depois aconteceu.
Os cerca de 30 000 euros que, dizem, o CDI custa, salvou-me a vida diversas vezes, todas aquelas em que a arritmia me atacou.
Era mais um passo e após dois meses de confusões, emoções e muitas convulsões, estava agora em casa, esperançado num futuro mais risonho.

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