terça-feira, 11 de setembro de 2012

Transição


transição |z|
(latim transitio, -onis)
1. .Ato ou efeito de transitar.
2. Passagem de um lugar, assunto, tom ou estado para outro.
3. .Trajeto.
 
 
O mês de Agosto 2010 iniciou muito quente, como é normal aqui no Alentejo. A crise não tinha passado, antes pelo contrário. Por vezes o CDI disparava, e agora, desde a última consulta de arritmologia, tudo se tinha alterado. Antes eu perdia a consciência primeiro e tudo se passava depois, pelo que não me apercebia sequer do disparo do aparelho. Agora, devido aos ajustes feitos tudo era diferente. Eu sentia o disparo, isto é, o choque eléctrico no peito, e não chegava sequer a desmaiar, como sucedia até aqui. Aquele tempo de espera introduzido, permitia a actuação do aparelho antes de haver perda de consciência. Para mim era ainda pior, pois acompanhava a evolução da arritmia e esperava o choque a qualquer momento. Outros problemas começavam a fazer-se sentir, gástricos, diabetes, tinha dificuldade em comer, dores de estômago e muito má disposição.
Assim achou-se que deveria voltar a Beja, já não para a cardiologia, mas para a medicina interna. Na realidade, para além de diagnosticar o que se passava comigo, estava -se também já a preparar o transplante, sem mo dizer expressamente, pois alguns dos exames feitos, já serviram, pois eram obrigatórios para a decisão de transplantar.
Então na primeira quinzena de Agosto, novo internamento em medicina interna e alguns exames pouco simpáticos para fazer. Clonoscopia, endoscopia, TAC, análises a tudo e mais alguma coisa, raio X. De tudo se concluiu que havia uma gastrite, que não justificava nenhuma intervenção para além do uso do "meu querido prazol". Estive assim numa enfermaria com seis camas, no Hospital de Beja, metade eram idosos. alimentados por sondas, inertes e a aguardar vagas nos centros de cuidados continuados.
Ali estava eu, visualizando um futuro tão incerto, no meio de tantos doentes, alguns apenas sobreviviam à custa de equipamentos que os alimentavam, que os faziam respirar, fraldas que retinham os excrementos, tudo muito triste, sem sentido, o prolongamento da vida para além daquilo que era normal e aceitável. E eu estava também a prolongar uma vida que já não tinha razão de ser, para além dos prognósticos mais optimistas. Só um milagre poderia salvar-me, mas o caminho para o milagre parecia longo e pedregoso, era tal que nem apetecia começar...
Por outro lado agora estava no lado sujo da medicina, a interna, já não estava no "clean room" da cardiologia, onde se morre sem se ver sangue, excrementos ou ranho, aqui todos eram "feios, porcos e maus", e eu lá estava , mais um !!! Estava em transição, mas para onde ?
Os exames feitos, embora tidos por desagradáveis, quer a sua preparação, quer na execução acabaram sendo feitos e os resultados afinal não apontavam nada de grave. A clonoscopia detectou um pólipo pequenino, imediatamente retirado, a endoscopia detectou uma ligeira gastrite e pouco mais. Acabei tendo alta, voltar para casa sem medicação especial, afinal era no coração que estava a origem de tudo, a falta de débito sanguíneo tudo arrasava, e os exames sobretudo serviram para testes pré-transplante, de forma que quando chegasse a hora muita coisa estava adiantada. Isto devo à Drª MJ.
Final de Agosto estava em casa, mas cada vez mais débil.

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